quarta-feira, 9 de julho de 2008

O mundo de Caras em Paraty - segunda parte

Depois de 20 minutos na fila de autógrafos me dei conta de que havia cometido o mesmo erro. Por que estou aqui? O que me fez querer o autógrafo desse homem, cujo livro nem li e, portanto, nem sei se vou gostar? Como já havia muita gente atrás de mim, resolvi continuar. Daí em diante, decidi observar os outros leitores ao meu redor. Eram muitos gaúchos, mineiros, paulistas e pouquíssimos cariocas. Será que é marra de carioca não querer autógrafo? Em um dado momento, uma mulher, com seus 40 e poucos anos, com sotaque carregadamente paulista, desanda a falar. Na verdade, desanda a brigar com uma operadora do seu cartão de crédito. Em poucos minutos, eu já sabia sobre toda a sua pendenga com o cartão: limite de dez mil reais, bloqueado em função de gastos parcelados e de uma clonagem. Esbraveja daqui, reclama do atendimento dali, manda a atendente falar corretamente. “Parece que tá com uma batata na boca, menina, fala direito”, gritou. Ligação desligada, ela resolve criar outros problemas na fila, agora com a organização da Flip. E tome reclamação: “o povo não pode tirar foto, tá demorando demais”, “é melhor não deixar mais ninguém entrar”, “não dá pra puxar conversa com o autor”. Como seu jeito caveirão de ser já estava me irritando, resolvi puxar papo com uma senhora. E o que faz uma velhinha quando se dá conta do início de uma conversa? Logo quer participar, é claro. Então, me vi num intenso bate-papo sobre literatura com duas senhoras. A carioca queria o autógrafo no livro para presentear a amiga, já a mineira dizia ter direito a tudo: fotos ao lado do escritor, dedicatória personalizada, beijinhos e abraços. E quando ri da sua atitude tiete, ela respondeu: “quando você chegar na minha idade vai entender que não se tem vergonha de nada”. A frase desmontou todo o meu castelinho de insensibilidade. Quando chegou sua vez, a senhorinha mineira - feliz como pinto no lixo, como diria Jamelão - sorriu, tirou a foto e ainda me deu um tchau cheio de alegria. Fui embora com a impressão de que não entro mais em filas de autógrafos, mas aprendi a respeitar quem entra, especialmente quando o desejo é apenas ter um pouco de proximidade com aquele que escreveu ou disse algo que o tocou.

2 comentários:

isabella saes disse...

Ah, mas quando eu lançar o meu livro, vc vai entrar na fila SIM!!!

Bárbara Pereira disse...

Belíssima,

eu continuarei entrando em fila de autógrafos de amigos, mas só de amigos mesmo! E como você é uma amiga mesmo, tomarei com certeza aquele vinhozinho branco. E acho que isso vai acontecer logo, logo. beijos,