quinta-feira, 31 de julho de 2008

Bolhas, muitas bolhas


Verinha adorava tomar uma bebidinha com as amigas pra falar mal dos outros, desancar o pessoal do trabalho e, de quebra, das amigas que não estavam lá. Os últimos encontros vinham acontecendo ao redor de uma garrafa de espumante, pra ficar mais chique, é claro. Afinal, mulher com o ensino superior completo e uma pós-graduação lato sensu não quer ser apenas inteligente, quer algo mais: quer parecer chique diante das outras. Tinha ainda um agravante: Verinha ouviu um monte de vezes que espumante era coisa de “mulherzinha”. Aí é que ela queria mesmo! Embora negasse de pés juntos, Verinha a-do-ra-va o rótulo.
Numa sexta-feira, depois do trabalho, partiu para o encontro de praxe. Taça na mão, na mesa um porção de amêndoas com passas – sim, amêndoas porque amendoim é coisa de boteco – e os assuntos de sempre: a última bola fora do marido, a amiga que não desencalha, o amigo do marido que só pensa em mulheres mais jovens, a outra amiga que não desencalha, a chefe que todo mundo acredita ser insatisfeita sexualmente. Enfim, a noite que toda mulher vez ou outra pede a Deus, a noite do desabafo! Aquela em que ela pode ficar bêbada, comer porcarias, rir alto, falar a pior das canalhices e não vai ter nenhum macho pra reprimir.
Totalmente alta, Verinha decide ir pra casa. Ao entrar no quarto, encontra a luz do abajur acesa e o marido sentado na cama tentando ler alguma coisa. Tentando, porque, na verdade, ele queria mesmo era esmurrar Verinha e a sua cara cheia de álcool. Mas Verinha não passou recibo (era uma mulher inteligente, ora bolas) e puxou da cartola a brilhante pensata que encerraria a noite:
“Querido, você não deveria ficar chateado. Na verdade, você deveria ficar muito feliz. Sim, porque voltar pra casa é um sinal de amor.”

Depois dessa noite, Verinha tropeçou várias vezes no fio do abajur apagado.

quarta-feira, 16 de julho de 2008

Psicopedagogia de boteco

Uma amiga suburbana estudava antropologia na Uerj - a Universidade do Estado do Rio de Janeiro - e depois de uma discussão mais acalorada com uma companheira de classe foi convidada pela professora a ter uma conversinha individualizada. Já numa sala reservada, a então estudante ouve esta pérola de lição:

- Eu só queria dizer para você que os ricos também sofrem.


Em tempo: a minha amiga conseguiu se formar. A professora ninguém sabe se um dia vai ter alta da análise.

domingo, 13 de julho de 2008

Sabedoria popular


Frase de uma caixa de supermercado (do Prezunic de Botafogo) para uma colega de trabalho:


- Se você se agarra em peixe pequeno, você afunda junto!


Nota da redacão (sempre quis escrever isso): a frase serve para várias situações: marido, trabalho, amigo que não é amigo... e o que mais a imaginação permitir.

quinta-feira, 10 de julho de 2008

A mulher alérgica


A mulher alérgica é incompreendida. Aliás, só tem uma pessoa que compreende a mulher alérgica: outra mulher alérgica. As mulheres alérgicas deveriam organizar uma associação para defender seus interesses na sociedade. A Associação das Mulheres Alérgicas e Incompreendidas, a AMAI. A primeira medida da associação poderia ser a criação de um manual que ensinasse aos não-alérgicos a conviver conosco. Sugestão para o primeiro capítulo: NUNCA DIGA A UM ALÉRGICO QUE O PROBLEMA DELE É EMOCIONAL! É isso mesmo! Você está lá com o nariz mais vermelho do que o do palhaço do circo, mais inchado do que a barriga do Ronaldo Fenômeno, e tem sempre uma mala que diz que a alergia é emocional, que o problema está na cabeça, entre outras barbaridades. Lembro de uma vez que fui a uma festa e o anfitrião tinha um gato, por quem tive uma imediata antipatia. O primeiro pêlo que o bichano soltou foi o suficiente para o meu rosto ficar mais deformado do que a cara de um lutador de boxe nocauteado no meio do ringue. O início da crise, aliás, é um momento de extrema irritação, irritação dupla. Além do incômodo próprio da alergia, todo mundo tem uma receita para ajudar: lavar o rosto com água fria, cheirar uma cebola, beber água...e por aí vai. Depois das receitas, surgem também os diagnósticos, é claro. No dia do gato na festinha, ouvi de uma convidada que a alergia era uma doença psicossomática, que era só eu pensar em outra coisa que passava. Fácil, não? Fiquei me perguntando por que ninguém disse isso antes, assim eu teria poupado muito dinheiro com as caixas e mais caixas de CLARITIN-POLARAMINIE-CETIRIZINA-TALERC(D)-SINGULAIR-RUPAFIN-NASONEX-BUSONID e outros tantos que não recordo nesse momento. Agora, o que mais irrita é namorado insensível, que acha que é tudo-frescura-de-mulherzinha. Esse é um capítulo do manual da AMAI que merece uma atenção especial, inclusive com dicas e sugestões de como os respectivos devem se comportar nessas delicadas horas. Nada de piadinhas, caras de enfado, nem descrença. Ah, e se vier com bicho de pelúcia no dia dos namorados merece ouvir um sonoro: perdeu playboy!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

O mundo de Caras em Paraty - segunda parte

Depois de 20 minutos na fila de autógrafos me dei conta de que havia cometido o mesmo erro. Por que estou aqui? O que me fez querer o autógrafo desse homem, cujo livro nem li e, portanto, nem sei se vou gostar? Como já havia muita gente atrás de mim, resolvi continuar. Daí em diante, decidi observar os outros leitores ao meu redor. Eram muitos gaúchos, mineiros, paulistas e pouquíssimos cariocas. Será que é marra de carioca não querer autógrafo? Em um dado momento, uma mulher, com seus 40 e poucos anos, com sotaque carregadamente paulista, desanda a falar. Na verdade, desanda a brigar com uma operadora do seu cartão de crédito. Em poucos minutos, eu já sabia sobre toda a sua pendenga com o cartão: limite de dez mil reais, bloqueado em função de gastos parcelados e de uma clonagem. Esbraveja daqui, reclama do atendimento dali, manda a atendente falar corretamente. “Parece que tá com uma batata na boca, menina, fala direito”, gritou. Ligação desligada, ela resolve criar outros problemas na fila, agora com a organização da Flip. E tome reclamação: “o povo não pode tirar foto, tá demorando demais”, “é melhor não deixar mais ninguém entrar”, “não dá pra puxar conversa com o autor”. Como seu jeito caveirão de ser já estava me irritando, resolvi puxar papo com uma senhora. E o que faz uma velhinha quando se dá conta do início de uma conversa? Logo quer participar, é claro. Então, me vi num intenso bate-papo sobre literatura com duas senhoras. A carioca queria o autógrafo no livro para presentear a amiga, já a mineira dizia ter direito a tudo: fotos ao lado do escritor, dedicatória personalizada, beijinhos e abraços. E quando ri da sua atitude tiete, ela respondeu: “quando você chegar na minha idade vai entender que não se tem vergonha de nada”. A frase desmontou todo o meu castelinho de insensibilidade. Quando chegou sua vez, a senhorinha mineira - feliz como pinto no lixo, como diria Jamelão - sorriu, tirou a foto e ainda me deu um tchau cheio de alegria. Fui embora com a impressão de que não entro mais em filas de autógrafos, mas aprendi a respeitar quem entra, especialmente quando o desejo é apenas ter um pouco de proximidade com aquele que escreveu ou disse algo que o tocou.

segunda-feira, 7 de julho de 2008

O mundo de Caras em Paraty

Este blog esteve fora do ar por vários dias porque estive na Flip, a Festa Literária de Paraty. Muita gente nas ruas, restaurantes com péssimos serviços, bons debates, outros muito ruins. Tudo isso vocês leram nos jornais, nenhuma novidade. A novidade é que resolvi fazer algo que costumo recriminar: pegar autógrafo de autor que não conheço. Explico: só costumo pegar autógrafos de livros de amigos, afinal amigos vão a lançamentos de livros de amigos para apoiar a iniciativa, mesmo que tenham que tomar aquele vinhozinho branco que não serve nem para cozinhar. Assisti a algumas mesas bem interessantes e me vi completamente apaixonada por duas escritoras: uma portuguesa e uma nigeriana. Inês Pedrosa foi brilhante, arrancou risos e conquistou a simpatia da mulherada. Pronto, foi o suficiente para a fila ficar gigantesca. Fugi dessa. Mas no caso da nigeriana, me vi obrigada a entrar. A fila não estava tão longa e eu estava realmente decidida a passar por aquela situação. Me peguei, como qualquer tiete de 15 anos, querendo virar amiga de infância daquela pessoa. É claro que o momento do autógrafo não passou de um “thank you”. Curiosamente, confesso que saí decepcionada com Chimamanda. Coitada, ela não tem culpa, a “piração” é toda nossa. Será que estamos todos influenciados por Caras, querendo conhecer a casa e a intimidade da celebridade, neste caso a literária? Tudo bem, decidi, então, que a minha pesquisa antropológica terminara ali. Continuaria como sempre, comprando os livros, lendo, gostando algumas vezes, outras nem tanto. Não consegui manter minha promessa. No dia seguinte, assisti ao debate entre os escritores Pierre Bayard e Marcelo Coelho. E lá estava eu, depois do debate, na fila de autógrafos.

Essa história continua em outro post para não cansar você!

domingo, 6 de julho de 2008

Sopa de letrinhas

Frase estampada numa Kombi branca que seguia hoje à noite na Avenida Brasil:

"É muito fácil falar mal de mim. Difíceo é ser eu."

Deve ser difícil mesmo!

terça-feira, 1 de julho de 2008

Loucuras infantis

Que criança diz o que pensa, todo mundo sabe. E todo mundo sabe também que, muitas vezes, elas pensam e dizem coisas que embaralham a cabeça de qualquer um. Uma amiga estava andando por uma rua quando a filha de uma outra amiga começa a gritar seu nome. Esbaforida, a criança afirma que tem uma coisa para contar para ela. Intrigada, minha amiga pára e ouve a seguinte pérola: "minha mãe está com celulite". Rapidamente, minha amiga pensou na possibilidade de a menina ter ouvido alguma reclamação da mãe naquela hora, nem sempre amena, de encontrar alguma salvação no guarda-roupa. O mal-entendido só se resolveu com a intervenção da babá que explicou: "querida, sua mãe está com sinusite".