
Verinha adorava tomar uma bebidinha com as amigas pra falar mal dos outros, desancar o pessoal do trabalho e, de quebra, das amigas que não estavam lá. Os últimos encontros vinham acontecendo ao redor de uma garrafa de espumante, pra ficar mais chique, é claro. Afinal, mulher com o ensino superior completo e uma pós-graduação lato sensu não quer ser apenas inteligente, quer algo mais: quer parecer chique diante das outras. Tinha ainda um agravante: Verinha ouviu um monte de vezes que espumante era coisa de “mulherzinha”. Aí é que ela queria mesmo! Embora negasse de pés juntos, Verinha a-do-ra-va o rótulo.
Numa sexta-feira, depois do trabalho, partiu para o encontro de praxe. Taça na mão, na mesa um porção de amêndoas com passas – sim, amêndoas porque amendoim é coisa de boteco – e os assuntos de sempre: a última bola fora do marido, a amiga que não desencalha, o amigo do marido que só pensa em mulheres mais jovens, a outra amiga que não desencalha, a chefe que todo mundo acredita ser insatisfeita sexualmente. Enfim, a noite que toda mulher vez ou outra pede a Deus, a noite do desabafo! Aquela em que ela pode ficar bêbada, comer porcarias, rir alto, falar a pior das canalhices e não vai ter nenhum macho pra reprimir.
Totalmente alta, Verinha decide ir pra casa. Ao entrar no quarto, encontra a luz do abajur acesa e o marido sentado na cama tentando ler alguma coisa. Tentando, porque, na verdade, ele queria mesmo era esmurrar Verinha e a sua cara cheia de álcool. Mas Verinha não passou recibo (era uma mulher inteligente, ora bolas) e puxou da cartola a brilhante pensata que encerraria a noite:
“Querido, você não deveria ficar chateado. Na verdade, você deveria ficar muito feliz. Sim, porque voltar pra casa é um sinal de amor.”
Depois dessa noite, Verinha tropeçou várias vezes no fio do abajur apagado.